Um falso roubo de Natal
Autora: Bióloga e Professora Débora Cristina Schilling Machry
Noel era um cachorro de rua que
foi adotado por Maria. A garota encontrou seu cão embaixo da ponte do arroio
Kruse, perto da escola Barão.
Um dia, voltando da escola, a menina encontrou
um filhotinho, cheio de carrapatos, de pulgas, morrendo de fome escondido entre
os espinhos das folhagens. Maria só viu o animal porque ele abanava o rabinho para
ela. Noel parecia dizer:
_ Guria me leva para sua casa,
por favor! Estou abandonado precisando de uma linda jovem para brincar e
cuidar.
A pequena garotinha abraçou o
cachorrinho, abriu a mochila, fez um espaço entre os livros e o acomodou :
_ Noel, vai ser seu nome. Já está
chegando o Natal e você será o meu presente.
Vou precisar esconder você até falar com minha família.
A menina, que sempre ficava
sozinha em casa durante o dia, aproveitou tempo em que seus pais estavam
fora e deu banho e comida para o cachorro.
Quando seus pais vieram do
trabalho não encontraram nada de diferente em casa, pois Cida havia escondido o mamífero dentro de
seu guarda-roupas.
_ Boa Noite, Cida! Como foi seu
dia?
_ Foi ótimo, trabalhei bastante.
Seu José e Dª Miraní, estranharam tanta alegria, pois sua
filha estava triste há vários dias pois queria um cachorrinho e eles haviam lhe
dito que não tinham como atender seu pedido.
Enquanto o animalzinho
enfraquecido se curava das feridas Cida
conseguia escondê-lo no armário até o horário em que seus pais saíam para
trabalhar. Mais como mentira tem pernas curtas...
Maria não conseguiu esconder seu
segredo por muito tempo, pois Noel se curou e numa certa noite, enquanto
tomavam chimarrão, começou a latir
dentro do esconderijo. Maria congelou de
medo e saiu correndo para seu quarto, seus pais foram atrás da filha. Ao
chegarem no aposento, encontraram a menina que chorava agarrada ao animal preto e branco peludo:
_ Pai, Mãe deixa eu ficar com
Noelzinho? Eu não quero mais nada de
Natal. Já cuidei dele, curei suas
feridas e não quero mais ficar sozinha à tarde. Ele me faz companhia e não fico
mais com medo!
Seus pais comovidos com a cena de
carinho disseram:
_ Minha filha, nós íamos lhe
comprar um cãozinho de natal, mas agora já vimos que o Papai Noel já lhe mandou
um belo presente. Sim, você pode ficar com Noel.
Durante os dias e meses a guria
ficou mais responsável e cheia de orgulho dizia para todos que elogiavam seu
cachorrinho:
_ Ele não é vira-lata, Noel é
cachorro da raça do meu coração. Ele me escolheu e eu aceitei seu pedido para
ser dona dele. As pessoas deveriam de
cuidar primeiro dos cães abandonados para depois pensar em comprar!
O ano foi passando, os pais de
Cida pagaram uma vizinha para cuidar da menina. Mas quando faltavam quinze dias
para o natal, Maria Aparecida, adoeceu de tristeza porque seu bichinho de estimação havia sido roubado.
Desesperada, na tarde em que ele
desapareceu, Cida colocou cartazes espalhados pela sua rua, na Vila chamada “Buraco
da Fumaça” dizendo:
Por Favor, se você está com Noel, me devolva, este cão mora
no meu coração! Sem ele meu coração está vazio!
A comunidade do "Buraco da Fumaça" ficou comovida com o apelo da menina e também começou a procurar o bichinho.
Já haviam se passado dois dias de
busca por Noel, quando Maria ouviu um barulho estranho dentro de seu
guarda-roupas. Assustada e sozinha, foi até seu quarto com uma vassoura para matar
o rato que ela achava que estava no seu dormitório. Com a vassoura em punho,
abriu a porta do móvel e dentro de sua mochila velha, com olhos arregalados
estava Noela, sim a pequena cadela da raça vira-lata com seus dois cachorrinhos
mamando.
Maria disse:
_ Falso roubo de Natal! Você me enganou, seu “peludinho”. Eu pensava que você era um macho
gordinho. Mais você é Noela que me trouxe dois presentes de natal: Felicidade e Papai Noel.
Sim, porque agora eu sei a
diferença de um totó macho e de uma fêmea.
Maria encontrou novos donos para
os dois filhotes.
Noela foi esterilizada pois Maria
Aparecida só poderia ter um companheiro
no pequeno pátio, daquele lar abençoado.